A questão não era grave, porque o poeta ainda se encontrava em plena juventude. Cansado da busca, é certo, mas incapaz de outra coisa que não isso.
Entretanto, os poderes não se tornavam honestos, os amigos não se levantavam das mesas, as mulheres não se rendiam incondicionalmente. E não era uma guerra, era um tédio.
E tentar para quê? Bastava-lhe ficar imóvel e sereno, pensar um pouco.
Assim se poupou. Por si só, sem auxílio nem compreensão exteriores, o vulcão começou a formar-se, a crescer. Primeiro, encheu a casa. Foi preciso tirar tudo, para que ele pudesse caber. A dado passo, estava já crescido de mais, quase a conceder verdadeira lava, e não aquele simulacro que do poeta tanto apreciavam, como se ele só valesse isso.
Abriram-se brechas nas paredes, a casa acabou por ir abaixo. Na noite, ruídos de coisas a rasgarem-se e a explodir soaram alta e intensamente, por algum tempo.
Veio então o dia em que o vulcão se revelou à luz, e como luz, para espanto do próprio poeta: porque aquele animal de dilúvios tinha asas — voava.
Por fim, a lava estava pronta para nascer. E o parto era sem tempo, toda a vida o parto.
Sentado no cume do seu vulcão, o poeta.
Veio a lava; o poeta ergueu-se. Chamas colossais envolveram-no, matéria de fogo em jorros atravessou-o sem o consumir. Ardia, o poeta, e a arder ria-se. Ele ria.
“A partir de agora”, disse, com uma nova voz, poderosa, “será sempre assim”.
E, pela primeira vez, todos o ouviram.