“O poeta esquece-se de escrever os poemas, consome-os nos gestos, ninguém para os ver”, disse ele. O que não passa de uma verdade diminuída, ou de uma mentira complexa. Na verdade, não se esquece de escrever os poemas, mas vai adiando, certos versos de ouro. E nos gestos não tem tanta poesia assim.
Parece até que anda preocupado, o poeta, sempre a planear o futuro, sempre esquecido de hoje... E toda a gente a olhar.
Poeta, cuidado; nunca esqueças os poemas. Poetas nós somos; e, se falo contigo, é porque sei que me escutas. Atenção: nunca acredites em excessos. Porque o excesso é vertiginoso, mas é também uma prisão.
Poeta, tu és um edifício a cair aos bocados. Devemos nós acreditar na solidez das estruturas ocultas, para, a partir delas, construirmos a nova casa? Queremos crer que sim. Faz-nos um sinal.