Difícil, agora, difícil mesmo, é esta minha arte pretendida de somente ser, e de me despojar.
Bebe-se disto e daquilo, aprende-se a apreciar, é natural que se queira continuar a beber. Há, no entanto, o risco de abuso. Diz-se então, com muita força das palavras: “Não, não vou beber mais”. E parece-nos ser essa a melhor decisão. Mas, inesperadamente, a memória traz-nos à boca aquele sabor mágico... Não, é preciso resistir. Embora tal resistência provoque sofrimento.
Ora é louco aquele que sofre por vontade. Pois não há já tanta dor involuntária?
“Não, não vou beber”.
E resiste-se ainda mais um pouco. Sempre mais um pouco. Até onde, até quando será possível aguentar? Porque, faça-se o que se fizer, a memória não se desvanece de todo.
Pensa-se a morte. Mas é apenas uma breve ideia. Literatura.