Estávamos no jardim, a fazer tempo.
Ao fundo, numa paragem de autocarro, um tipo com blusão de cabedal dá safanões numa garota loira. Ela defende-se, chora. Ele insiste. Imaginamo-nos a dialogar e, por trás de nós, uma câmara a filmar as nossas nucas mais a nossa conversa e aquela cena do tipo e da garota loira, que estão relativamente distantes; de tal modo que os espectadores mal reparam, nós é que lhes vamos chamando a atenção.
Digo: “a última vez que fiz algo parecido estava apaixonado”.
“Também sei”, diz o outro. “É um tipo a dominar a situação. Dá para sentir o homem”.
“Ah sim?”
A loira afasta-se para a paragem dos táxis. O tipo vai-lhe no encalço, mas vagaroso, as mãos nos bolsos.
“Ela tapa a mão com a boca, não, a boca na mão, continua na defensiva. E ele agora chega e ela diz-lhe vai-te daqui és um cabrão, e ele nas calmas, mas a pensar que ela é boa e bonita e que há por aí muito tipo que não se importava nada de se lhe pôr em cima. É uma sensação lixada. Uma sensação filha da puta”.
Fala-se muito, cala-se mais.
As mulheres querem tudo, os homens querem tudo.
“Está na hora”, disse eu.