... E foi-lhes respondendo:
A um:
“Claro que não há destino. Acredito em todos. Se construo ou destruo alguma coisa, a isso é que chamo destino. É uma mera questão de circunstância, oportunismo e marketing”.
A dois:
“Não respeito muito os que só entendem a estupidez quando a vêem nos outros. É menos estúpido começar pela nossa própria”.
A três:
“Bebo, destruo, revolto-me. Estou doente e não entendo. Depois não bebo, construo, não me revolto. Permaneço doente, e sem entender. Não sou muito romântico, creio”.
A quatro:
“Nunca sei com certeza se estou a trabalhar bem. Às vezes satisfeito, às vezes insatisfeito. Isto que agora acho belo, mais daqui a bocado perde para mim toda a importância. Além disso, o meu trabalho acaba sempre nos outros: eles que digam. A minha opinião é apenas a minha opinião”.
A cinco:
“Tudo é absurdo. Claro. Tudo é extraordinário, também. Tudo é alienação, tudo é sexo, tudo é ilusão, tudo é batatas, etc.. Por isso não vou crer. Não vou sair daqui, não me vou mexer, vou ficar muito quietinho e caladinho. E quando me perguntarem: “mas que se passa contigo?”, responderei somente, num sussurro: “não vale a pena, tudo é inútil”. Não é?”
A seis:
“A paixão é um acontecimento tremendo: instalados nela, parece não haver nada capaz de nos derrubar, e até o mau se faz bom — ou melhor, pelo menos. E aí vamos nós, imbatíveis, cegos, luminosos. Mas, de repente — é da sua natureza — , a paixão desvanece-se. E fica tudo tão sórdido... Ah, mas um homem a sério não desarma, faz-se incansável. Bom mesmo é sentir. É isso que é ser poeta, por exemplo. Esta acabou? Começa-se já outra. Cá vamos nós”.
A sete:
“A loucura é um tipo a babar-se, numa cadeira de rodas, amarrado, encharcado de calmantes fortes. Ou então a loucura é estar-se sempre a perguntar: “e se?... e se?...”, e tudo ser, tudo obedecer. Evidentemente, eu procuro. Mas encontrar, sabem, não é o que mais me interessa. Porque sei que não se encontra; todo o gozo reside na busca. A loucura? Pois sim. Uma dose dela, com certeza. Mais do que isso, não”.
A oito:
“Tu falas, eu escuto-te. Às vezes ligo-te, às vezes não. És uma besta? Eu também. Somos todos. Por isso é que nos entendemos, mas não nos entendemos”.
A nove:
“Tudo se diz, a confusão é grande, o silêncio é de oiro, a música tem pausas, fala-se por se falar, come-se, o vinho é bom. Se eu fosse poeta, só dizia de mistérios, mas assim não; fácil mesmo é ser prosaico”.
A dez:
“Viver é não compreender, e no entanto aceitar, e de súbito dar uma volta completa e não aceitar mais nada, dizer: “Está cheio”, pensar que o pior é que tudo se pode compreender ¾ que tudo se compreende, de facto”.
A onze:
“Pensar é pensar. Às vezes penso, depois ajo. Às vezes estou à espera e farto-me de esperar e por isso vou-me embora. Às vezes ajo sem pensar. Quando depois penso no que fiz, sinto-me confuso. Existir é um acaso”.