“Estou disposto a ouvir-te”, disse o poeta à mulher. “Eu não durmo”.
“Tu não dormes”, disse a mulher. E sorria.
Falou.
“Eu bebo”, disse o poeta. “Bebes?”
“Bebo”.
Olharam-se, sem nada saberem. Brindaram. Beberam.
“Porque é que tu és o poeta?”, perguntou-lhe a mulher.
E ele respondeu:
“Porque sou aquele que vale só por si”.
“E isso é bom?”
“É o melhor”.
“Eu sofro”, disse a mulher.
“Sofre-se de mais”, disse o poeta. “Eu também. Não se foge a isso. Mas prefiro sofrer a não sentir”.
Estavam ambos muito sozinhos, naquele lugar.