O ÓCIO
Fazer seja o que for é fazer seja o que for.
Pois é.
Nada vale nada. Deixa-os andar.
Por mim, vivo de dormir na chatice. Nesta chatice. Sento-me aqui e pronto.
Não tenho nobres causas para defender.
Nada me ataca. Nem a mim me defendo.
Vou bebendo.
Pois é.
Pois é.
Chega um que eu conheço.
— Então? — diz ele.
— Então? — digo eu.
— Pois é — diz ele.
Põe-se também a beber.
Depois finge-se apressado.
— Tenho muito que fazer — diz ele.
— Ah sim? — digo eu.
Vejo-o a deixar-se estar.
Não lhe apetece, penso eu.
Pois é.



O tempo vai passando.
Ainda bem que se dorme: dormir ajuda o tempo a passar.
Agora vem outro.
— Então? — diz ele.
— Então? — digo eu.
— Então? — diz o outro, o que estava com pressa, e que afinal nunca mais se vai embora.
— Pois é — diz o que acaba de chegar.
Esta taberna está sempre cheia de moscas.
Já começo a ter fome.
Fico mais um bocado: ainda me apetece beber.
Vou bebendo.
Agora fumo um cigarro.
Os cigarros também ajudam o tempo a passar.
Pois é.
Já começo a ficar um pouco bêbado.
Mas ainda bem: se não fosse a bebida, o tempo custava muito mais tempo a passar.
— Então, não te vais embora? — pergunto eu ao que tem muito que fazer.
— Tenho de ir — diz ele.
Mas não se mexe nem um bocadinho.
— Pois é — repete o último que chegou.
Acho que me vou levantar.
Começo a ficar um pouco aborrecido.
Além disso, está mesmo na hora do jantar.
Ainda bem.
Comer ajuda muito o tempo a passar.