O poeta estava sentado no pedestal-mármore dos seus pensamentos. Fez um trocadilho ocasional (“pencimentos”), e essa solidez do material fê-lo lembrar-se, inesperadamente, da história da fortaleza, que alguém lhe contara já há muito tempo, em outra terra, num bar muito movimentado, já a noite ia longa, e larga a embriaguez.
Mas o que era a fortaleza?
“É tudo o que tu quiseres”, dissera o contador de histórias, os olhos brilhantes como promessas de tesouros. “Consegues imaginar tamanha fantasia? Por isso é que se torna tão difícil e tão perigoso conquistá-la”.
O tempo passou. Aparentemente, o poeta esqueceu. Histórias já ele ouvira muitas.
Mas agora, de repente, ali estava ela outra vez, aquela coisa da fortaleza — tudo o que ele quisesse.
Desceu do pedestal, encolheu os ombros. Porque não? Os sonhos dos doidos sempre tinham sido um dos terrenos privilegiados pela sua presença.
Como não usava bagagem, foi-lhe fácil decidir-se. Ergueu a rosa-dos-ventos à altura dos olhos e soprou-a: levantou-se uma nuvem de poeira odorífera, todas as direcções se iluminaram.
Há algum tempo já que não viajava. Saudou a aventura, que o acordara mesmo no momento certo.