O poeta estava sentado num banco de jardim. Chegou o jornalista e sentou-se a seu lado.
— O jornalista é um cavalo doméstico — afirmou o poeta. — Qualquer ideologia o monta.
— E tu? — perguntou-lhe o jornalista.
— Eu sou poeta.
— Tens a certeza?
— Absoluta.
— Diz-me outra vez o que é o jornalista.
— O jornalista é um boi do discernimento: tem a grande pachorra do raciocínio inútil.
— Diz outra vez.
— O jornalista é um bode.
— Porquê?
— Não tem explicação. Conheci um jornalista que antes tinha sido professor de História. A última vez que o vi foi a assistir a um concerto de rock.
— É tudo?
— Não. Escuta: o poeta é um macaco, o macaco é um jornalista, os jornalistas são poetas franceses e americanos.
— É tudo?
O jornalista começava já a impacientar-se.
— Neste momento é — concluiu o poeta.
O jornalista foi para casa escrever um artigo para a vigésima página. O poeta ficou ainda mais um bocado, a pensar.
Lembrava-se vagamente de que o concerto de rock não tinha sido mau.