Poeta, eu, julguei trepar à colina, para alcançar a fortaleza, mas ainda alerta, pronto a responder a qualquer um dos últimos perigos inesperados que tal aventura podia implicar.
Afinal, o que vi foi as pedras a crescerem do chão, à minha volta. Mas pareciam sair de mim.
Depressa me vi rodeado por uma grande torre sem portas; no interior, apenas uma escada em caracol, que me pus a escalar até atingir o céu aberto. Era uma torre altíssima, mas de repente reparei que tinha só um pouco menos que a minha altura. Assim, pude ver o mundo todo em redor, e até muito longe. Respirei do ar o puro.
Prosaica fortaleza. Pois seria aquilo? Era aquilo que eu queria? Aquele olhar de longe para a paisagem e não ir lá? E o ar? E o frio das pedras?
Não senti nada de mim. Tentei lembrar-me do deserto exacto onde se situava aquele bar em que me tinham contado pela primeira vez a história da fortaleza. Pensei: “deve ter sido uma grande bebedeira...”
Respirei.
As pedras resvalaram comigo pela encosta abaixo, frágeis e leves como se não passassem de cenário. Mas a relva era verdadeira, verde e macia, e não cheirava a cola nem a cimento. Não me magoei. Adormeci.
Depois dei por mim a acordar na minha cama, rodeado de perfumes de mulheres. Fiz a barba, estranho. Lavei-me. Lavei-me durante muito tempo.
Nu, ainda molhado, fui sentar-me no pedestal-mármore, e deixei-me ficar assim, a tentar lembrar-me de uma coisa que não sabia o que era, mas que era sempre o mesmo, com certeza.