Por uma vez, encaremos inequivocamente o sonho, e tentemos ver o que ele vale, tanto como o que é, e para que serve.
Encaremos a fortaleza, portanto. Primeiro que tudo: o que é?
Devem lembrar-se ainda de como enchemos a nossa infância de lendas onde imperavam lâmpadas mágicas, anéis de desejos, espadas encantadas — todo um mundo, enfim, de objectos capazes de, por magia, transformar a realidade. Mais especificamente, podemos até recordar uma história em que um cavaleiro de armadura branca parte em busca de um tal Santo Graal, que é uma taça por onde bebe vinho um tal Jesus Cristo, numa certa Última Ceia.
Talvez seja agora o tempo de esquecer de vez os enganos da infância, e partir directamente dessa história do cavaleiro, que é um símbolo perfeito. E se nós temos, de facto, uma sabedoria que nos permite fazer uma boa leitura das simbologias, então não nos será difícil equiparar a fortaleza com o Santo Graal, embora omitindo Cristo, porque a personagem aqui é o poeta, e o realizador não é americano (por mais que pudesse sê-lo). Além disso, a fortaleza é superior e mais-que-perfeita, enquanto sonho-símbolo, porque o lema da sua essência é um infinito: “Ser tudo o que se quiser”. E aqui chegamos, sem dúvida, ao cerne do sonho que a fortaleza é. SER TUDO é SER MUITO. É de mais. (Não haver fim sempre nos assombrou.)
Por isso eu, o poeta, o entendo tão bem, e aceito-o, e assumo-o. Quer dizer: porque a fortaleza admite todos os caminhos e todos os caminhos me admitem, a fortaleza torna-se, naturalmente, o meu sonho. O sonho perfeito. O sonho que me conduz à possibilidade da própria perfeição de mim.
Cada ser tem a sua fortaleza.
Portanto, não me façam parar: quero alcançar a minha.