OS VELHOS

Com a beata apagada ao canto da boca.
Com a pele tão encarquilhada que já nem a barba consegue fazer bem feita.
Com um chapéu tão sebento que a chuva escorrega nele.
Surdo, quase.
Já sem dentes.
A mulher a tossir.
Com varizes.
Com óculos de meia cegueira.
Com dores que não a deixam dormir.
Com filhos que partiram para o estrangeiro.
Com vizinhos que os escutam a morrer.

Aí vai ele, rua acima, muito devagar, a cuspir para o chão de cinco em cinco metros.
Aí está ela, a cozinhar.
Mas já não acerta nos temperos.
E comem tão pouco: como dois passarinhos.
Ele é que ainda bebe, esquecido na taberna. Quer morrer. Tem tanta sabedoria inútil... Qualquer miúdo do liceu é capaz de falar de coisas que ele nunca entenderá.
Lá vai, lá vai.
Não vale a pena pensar.
Falam com ele, a cumprimentá-lo. Mas é muito ao longe, só responde dois dias depois.
Olham para a televisão. Não entendem nem metade. Adormecem.
Dormem pouco.
O corpo já não lhe diz prazer.
Todos os ruídos assustam.
— O que foi? O que foi?
Nunca é nada.
Como ele ressona...
Como o frio os incomoda...
Mas ainda é possível fazer uma renda, lançar milho a umas galinhas, manter viva uma horta.
É só mais um tempo.
Um tempo há espera.