O poeta ficou mais um bocado, sentado no banco de jardim, a pensar:
“O público é inútil, o público é estúpido. Um poeta fala alto os poemas, mas só as orelhas o ouvem: as cabeças colocam-se sempre aquém”.
A pensar:
“Os homens do meu tempo não servem para nada. Cuidam das mãos de uma forma ambígua, usam-nas para estrangular poetas. Tomam ares funcionais, quando o fazem. Às vezes, discreta e distraidamente, chegam mesmo a sorrir”.
A pensar:
“Se calhar, um inglês é que descobriu que o tempo nos pólos anda mais devagar. Se calhar não foi um poeta, que os poetas não são de fazer descobertas”.
A pensar:
“Já somos mais de cinco biliões, estamos a chegar aos últimos anos deste século (sou testemunha), e agora, finalmente, todas as coisas se começam a relacionar com verdadeira intimidade. Trata-se, contudo, de mais um logro, optimista, ditado pelas aparências. Assim, se me apetecesse, e sem abandono da justiça, poderia declarar: apesar de tudo, o maior desperdício que se verifica à face deste planeta continua a ser de inteligência”.
A pensar, poeta:
“Que bom seria, realmente, conhecer todas as cidades, todos os rios e lagos e mares, todas as montanhas, todos os nomes, sabores, cheiros, linguagens, a medida exacta de todas distâncias...”
A pensar:“Se calhar, o tempo nos pólos anda mas é mais depressa”.