O DINHEIRO

Tenho três casas, três carros, três barcos, três cavalos, uma mulher e duas amantes.
O que quero, posso.
Saiam-me da frente.
Nada me obriga a aturar toda esta gente.
Ei-los de focinho em baixo, que nem porcos.
Gostariam de ser como eu.
Fazem-me vénias, brindes. Se pudessem, era só facadas pelas costas.
Porque dou grandes festas, e venho nos jornais.
Sou de outra dimensão.
Viajo muito pelo estrangeiro, negoceio com ministros.
Às vezes sento-me no meu escritório, imagino que nada possuo. É uma ideia muito reconfortante, porque não se refere à realidade.

O dinheiro não serve para nada, diria eu aos pobres, se os soubesse capazes de me compreender.
Pois pensam, porventura, que sou feliz?
Nada disso. Distraio-me melhor, apenas.
E depois, vocês sabem?, há gente rica que não vale nada.
Vou até à janela do meu décimo sexto andar e fico a olhar a azáfama do povo. Só pensam no dinheiro, coitados.
Passam uma vida inteira a pensar nele. Por isso é que são tristes.
Deviam deixar isso a tipos como eu, que são capazes de se sacrificar para maior prosperidade da nação.
Dirão, talvez, que também não são pequenos os benefícios que colho.
Mas é tudo uma questão de imagem pública. Ou imaginam quanto é que custa manter uma amante?
Nada é fácil, neste mundo.
Nem mesmo para os ricos.
Acreditem-me: aborreço-me.
Quem me dera ter uma luta qualquer!...